terça-feira, 12 de abril de 2011

Raio X do Tioglicolato de Amônio

Volume sob controle e efeito liso natural são resultados oferecidos pelo tioglicolato de amônio. Mas, apesar de todo o seu potencial, não se trata de uma substância milagrosa. Respeitar os limites do cabelo e ler a bula do produto são regras básicas para um bom trabalho.

Nos últimos tempos, os laboratórios da indústria cosmética trabalharam no caminho da eficiência e da segurança no alisamento. Um dos resultados dessa busca e que também conquistou seu espaço nos salões é o uso do tioglicolato de amônio. “Trata-se de um ativo químico obtido pela reação entre o ácido tioglicólico e o hidróxido de amônio. Essa combinação desestrutura as cadeias internas do fio, responsáveis por sua forma. Em seguida, o processo precisa ser neutralizado, geralmente com peróxido de hidrogênio”, explica a engenheira química Camila Cerdeira, da K.Pro. Segundo ela, a aplicação dessa base é indicada para relaxamentos suaves ou na escova definitiva – procedimento em que o cabelo recebe chapinha antes da neutralização –, que resulta em fios extremamente lisos e alinhados.

Como atua

 
Assim como outros alisantes, o tioglicolato age no córtex. Ele desestrutura as ligações de cistina (aminoácido que responde por 36% da composição da fibra capilar e é responsável pela forma e resistência do fio). Quando se modificam essas pontes, as características do cabelo são alteradas. Assim, ele pode ficar mais liso ou menos ondulado, dependendo da sua textura original.

Mas como o ativo consegue atingir o córtex ? 

 
É justamente seu pH elevado (de 9 a 9,5) que abre o caminho. Ele provoca uma espécie de “inchaço” na fibra, que se expande. E, com o aumento de volume, as escamas da cutícula são abertas. Estas se soltam, facilitando a entrada do alisante. Lá, ele quebra as ligações de cistina e a reação só é finalizada com a neutralização. Então as pontes são restabelecidas e a estrutura do fio, alterada definitivamente. Vale ressaltar que o tioglicolato apresenta moléculas maiores que os hidróxidos. Por isso, tem menos força para agir na cistina, ou seja, alisa menos. Mas, em compensação, segundo o químico Adriano Pinheiro, do laboratório Kosmosciense, a agressão também é reduzida. É que o agente oferece menor perda de proteínas e não retira água da fibra, como acontece com os hidróxidos.

Questão de segurança
 
O diagnóstico do cabelo é fundamental para saber se ele pode ou não receber o tioglicolato de amônio. Além de sentir a textura dos fios e verificar sua elasticidade, é importante perguntar à cliente se ela usou química anteriormente e se sofre de algum problema de saúde que provoque queda. Vale destacar que o teste de mechas também é obrigatório, inclusive nas madeixas que nunca passaram por processos químicos. “É a integridade dos fios que determina o que eles podem ou não receber”, observa Camila Cerdeira. Identificar que outro ativo para alisamento a cliente já usou é imprescindível. A aplicação do tioglicolato em cabelo alisado com hidróxido pode se tornar um desastre, pois as substâncias são incompatíveis. “A troca de bases até é permitida, mas após um período mínimo de seis meses, com utilização do novo ativo apenas na raiz crescida, sem encostar na parte previamente relaxada. No caso de um acidente, em que o profissional tenha combinado fórmulas que não podem ser misturadas, o ideal é pedir à cliente que dê um tempo nos procedimentos químicos. “A solução é tratar a fibra com queratina para amenizar a quebra e a estrutura danificada”, diz Creusa Fernandes. Sobre segurança, também é importante ter em mente que, assim como qualquer produto químico, o tioglicolato de amônio pode provocar alergia ou irritação. De acordo com o dermatologista Ademir Jr., especialista em tricologia, caso isso ocorra a cliente tem de procurar um médico, que irá ministrar o tratamento adequado. “Em situações como essa podem ser prescritos antialérgicos e anti-inflamatórios em loção, se o problema for de leve a moderado; ou medicação via oral, se for severo”, explica o especialista.

Cuidados extras

 
Segundo Camila Cerdeira, todo relaxamento, bem ou malfeito, pode degradar a queratina do córtex e da cutícula. O processo danifica os fios por ser alcalino e usar oxidante como neutralizante. “Para a fibra, isso significa desgaste, ressecamento da camada ácida natural, desbalanceamento de pH e deterioração da queratina. O resultado é enfraquecimento e quebra”, detalha a engenheira química. A oxidação também leva ao desbotamento da cor, seja ela natural ou artificial. Portanto, se o objetivo for colorir e alisar, o ideal é sempre aplicar a coloração após o relaxamento e não antes. O indicado é que depois do alisamento a coloração seja feita com tonalizante sem amônia. O produto deposita superficialmente os pigmentos, quer dizer, não abre novamente as cutículas, o que fragilizaria os fios. Quanto ao intervalo entre os procedimentos, devem-se seguir duas regras: obedecer às orientações de cada fabricante e respeitar as condições do cabelo. Já em relação ao clareamento, a coisa fica mais séria, pois esse processo, por si só, é agressivo. O descolorante só pode ser aplicado sobre o tioglicolato de amônio após minuciosa avaliação, pelo menos uma semana após a utilização do alisante e em mechas finas. Descoloração global é proibida nas madeixas relaxadas, segundo o hairstylist César Augusto, do Mirage, em Porto Alegre. Ele recomenda ainda que o descolorante tenha pouca ou nenhuma concentração de amônia.

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